sábado, 18 de abril de 2015

Mães, filhos e demônios

São 4h da tarde. Dona Olga, ex-contadora de descendência judia em seus 82 anos bem vividos, faz compras no mercadinho que frequenta há mais anos do que consegue numerar. Seus cabelos louros, recém tingidos e com um penteado feito exclusivamente para a data especial, era motivo de orgulho naquele dia. Suas vestimentas, em contrapartida, eram simples. Usava um vestido florido, que sempre vestia para ir ao mercadinho, pois aquelas flores a faziam sentir-se em harminoa com aquela natureza rica de frutas, vegetais, cores e texturas. Isso a deixava feliz e tranquila. Contribuindo com essa tranquilidade, tocava Mozart no local; algo que, ainda que inusitado para novos clientes, não espantava D. Olga. Ela conhecia o gosto para música clássica do dono do estabelecimento, que sempre colocava os grandes – Mozart, Chopin, Vivaldi – para seus clientes ouvirem, algo que nunca pareceu incomodar ninguém. Dona Olga que o diga, pois estava agora gesticulando com uma mão ao compasso da sinfonia, de frente para compartimento de tomates, certificando-se de fazê-lo de forma discreta, pois detestava ser o centro das atenções. Com a mão quieta apoiava a sacola com os tomates que havia selecionado para o peixe ensopado do aniversário do filho, Miguel, que completava 36 anos naquele dia.
Enquanto isso, aproxima-se da seção dos tomates um homem muito elegante, que imediatamente reconhece D. Olga. É Marcos Friedman, seu antigo colega de escritório. Era e é um homem muito culto e possuidor de um grande fascínio em se vestir bem, comprando sempre as roupas mais caras que seu orçamento permitia. No entanto, o que lhe sobra de requinte, sobra também de humildade e extroversão. Marcos  coloca a mão no ombro de dona Olga e a cumprimenta.
– Olguinha! Quanto tempo, Olguinha! Como você está? – pergunta o homem, muito  entusiasmado.
– Não acredito! Marcos Friedman! – replica Olga e aproxima-se para o abraçar.
– Quanto tempo faz? Uns dez anos que não nos vemos? Talvez quinze? – o homem pergunta, ajeitando de forma quase automática o smoking, que parecia novo em folha, após o abraço caloroso.
– Olha, se minha memória não me falha – coisa que ela tem feito bastante recentemente – a última vez que nos vimos foi no seu casamento com a Bertinha. Há dez anos atrás – diz ela, com um sorriso dos mais genuínos no rosto.
– Acho que você está certa, Olguinha. Por falar nisso, a Berta sente bastante saudade de você; ela ia adorar te ver aqui – nota Marcos,  agora já com o chapéu estilo Trilby nas mãos.
– Ah, quantas saudades eu sinto da Bertinha, minha amiga. – ela diz, olhando para o chão, por um momento – E agora que estou me lembrando. Vocês se conheceram através de mim, não é verdade, Marcos? – ela pergunta, apenas esperando uma confirmação.
– Está certa novamente, Olguinha – e sorri. –  Se você não tivesse me levado à sinagoga Shel, lá em Botafogo, naquele dia, eu nunca teria conhecido a Berta e construído a minha família linda.
– Ah, eu sabia! – diz e sorri D. Olga, apontando e chacoalhando o dedo para o homem.
– Pois é. Tenho três netinhos, sabia? Dois meninos e uma menina. Lindos, todos lindos – o homem se enche de orgulho ao dizer isso.
– Que maravilha! Você tem alguma foto deles? – ela pergunta, a curiosidade à flor da pele.
– Tenho sim. Olha aqui – diz Marcos, sacando do bolso o celular estilo flip. No entanto, descobre que o aparelho está sem bateria.
– Numa outra oportunidade você me mostra seus pequenos, Marcos. Acontece. – diz Olga, consolando o homem.
– Que situação desagradável. Eu tinha certeza que tinha carregado ele hoje de manhã – lamenta ele.
– Sabe, Marcos. Eu também tenho um netinho. Eduardo, o nome dele. Duduzinho! Coisa mais linda. Tem 5 aninhos – finalmente revela Olga, que estava apenas esperando uma oportunidade para falar do netinho. – Filho do meu filho Miguelzinho.
– Aquele Miguelzinho que ficava na barra da sua saia o dia inteiro na época que trabalhávamos no jornal? – pergunta surpreso Marcos.
– Isso mesmo! Só me dá alegrias, esse menino. Sempre muito apegado a mim, é verdade. Muito tímido também, mas é o jeito dele – aponta Olga, com um leve tom de reprovação. E continua – O filho é a mesma coisa. Apegadíssimo ao pai e a mim. Uma lindeza, benzadeus!
Enquanto conversam, uma mulher se aproxima da porta do mercadinho. Usa um vestido azul marinho bastante justo, sapatos de salto alto, luvas de cetim preto e um chapéu de renda recaindo sobre o rosto, de pele clara e feição jovial. Ela segura uma maleta, também azul, e tem o olhar determinado. A mulher então ajeita a roupa, o cabelo e finalmente adentra o local. Enquanto percorre as fileiras de vegetais com incomparável elegância e imponência, ela parece observar todas as pessoas ali dentro com distinta atenção, como uma espiã de guerra, quando finalmente detecta a presença de Marcos no local. Ela para imediatamente, saca o pulso esquerdo para olhar as horas e o recolhe novamente, o olhar agora fixo no homem, que mal sabe que está sendo observado.
– Lembra quando você pediu demissão do jornal, Olguinha? – pergunta Marcos, mal conseguindo segurar o riso.
– Oh, como eu me lembro! Nesse dia a Marlene aproveitou e se demitiu também. Bebemos alguns drinks em comemoração a nós mesmas – diz a mulher com um ar nostálgico, agora amarrando a sacola com os tomates e rindo um pouco.
– É verdade, Olguinha. Todos vibramos muito por você naquele dia. Realmente inesquecível. O Pablo subiu na mesa e quase foi demitido, lembra? – disse Marcos, suas palavras ainda competindo com as risadas.
– Mas é claro! Como eu me esqueceria? – ela diz, com a mão na cintura – Pablo era muito meu amigo. Viajamos juntos para Bariloche uma vez. Não sei por que paramos de nos falar – Olga olha para cima como tentando se lembrar.
– Mas me diz, Olguinha. Tá bonita! Alguma ocasião especial? – ele dispara.
– Sim! Sim, é o aniversário do Miguelzinho hoje. Eu ainda não tinha te contado? – responde com muita empolgação ela. – Faremos juntos um peixe ensopado com tomates, como todo ano – e balança às vistas de Marcos a sacola de tomates.
– Que maravilha, Olguinha. Muito bom ouvir isso.
A mulher que os observava agora está fazendo uma ligação telefônica pelo celular, sempre fitando Marcos à distância. Ela fecha o aparelho, o guarda em sua pequena bolsa a tiracolo e caminha na direção de Olga e Marcos. Seu andar é o de uma modelo e seu olhar, o de uma leoa prestes a atacar sua presa.
– Mas me diz, Marcos. O que você tem feito durante todos esses anos? – pergunta com empolgação Olga.
– Bom, eu –
– Marcos Friedman. – o interrompe a mulher misteriosa ao se aproximar dos dois.
– Valkíria? Não acredito! – exclama Marcos, que se apressa para abraçá-la, mas ela permanece imóvel, com uma expressão de impaciência.
– Valkíria, irmã da Bertinha? – pergunta Olga, muito surpresa.
– Sim, sou eu. – a mulher pronuncia as três palavras como se fossem uma única, sem ao menos olhar para Olga. Seu olhar está fixo em Marcos. E ela continua.
– Acredito que tenha conhecido o Marcos. – Ela diz, ainda fitando o homem no rosto.
– Sim, ele é o –
– Este homem é procurado pela KGB por atentados à humanidade. Agora que o encontrei, poderei tomar as devidas providências. – Valkíria informa, quase de forma robótica.
– Quem? O Marcos? Um terrorista? Você só pode estar brincando – diz entre risadas Olga.
– Sim. Ele mesmo. Ele é acusado de ter detonado uma bomba numa escola primária em Minsk, na Bielorrússia, no mês passado. – Ela diz, sem a menor alteração no tom de sua voz.
– E o que você vai fazer? Me prender? – desafia Marcos, visivelmente abalado.
– Esse é o plano. Contarei com a ajuda do Alberto para isso. – Revela a mulher, e vira a cabeça para mirar o gerente.
Seu Alberto Shmidt, o gerente do mercadinho, é um rapaz baixo e de rosto muiro alegre de quem ama seu trabalho. Suas calças pretas e camisa social branca dobrada à altura dos cotovelos, assim como o walkie-talkie preso ao cinto, condizem inteiramente com aquele cargo, que orgulhosamente ocupava há tantos anos naquele mercadinho. Ao terminar de ajudar uma cliente a encontrar os cestos para compras, ele repara a mulher acenando para que ele se aproxime e imediatamente sente-se um tanto quanto intimidado, pois não tinha contato com mulheres tão atraentes com frequência. Ele então endireita a coluna, dá um pigarro para limpar a garganta e passa a mão no cabelo de súbito, numa tentativa de estar em sua melhor forma possível para executar a missão requisitada pela mulher, que certamente não era qualquer cliente.  Ele então dirige-se até ela.
– Pois não, senhorita. Posso ajudá-la em algo? ­ – ele pergunta e dá uma piscadinha nada discreta para Valkíria.
– Pode sim. – Ela responde. – Já está na hora.
– Ah, sim. Já está tudo pronto, Srta. Valkíria – informa Alberto, tentando esconder seu nervosismo evidente.
– Excelente. – E vira-se para Olga. – Pode ficar de olho nele para mim, Olguinha? – diz Valkíria olhando pela primeira vez para Dona Olga, no que estava longe de ser um pedido, mas sim uma ordem.
Antes que Dona Olga pudesse responder, a mulher vira-se e começa a caminhar em direção à saída do mercadinho. Seu Alberto a segue prontamente, tentando despedir-se, de forma muito atrapalhada, de Olga e Marcos.
–  Isso está me cheirando muito mal, Marcos – sussurra Dona Olga para o homem, que a essa altura não está mais prestando atenção nela, preocupado com outros assuntos.
Seu Alberto conversa sobre algo Valkíria ao chegar à saída do mercadinho, onde ela já estava, olhando ocasionalmente para D. Olga e Marcos. Após muitos acenos por parte dele, Alberto retorna ao seu posto, perto dos caixas do local, enquanto Valkíria permanece no mesmo lugar.
– Eu sou velha conhecida do seu Alberto, Marcos. Vou tirar isso a limpo – informa Olga a ele – Você fique aqui, não quero que nada aconteça com você – pede a mulher, segurando de leve o ombro  de Marcos enquanto deixa sua companhia em direção a Alberto. Ela então segue até ele, que agora está pálido e suando demasiadamente.
– Olá, Albertinho – Olga o cumprimenta, com uma expressão que mistura afeição e desconfiança. – Posso parecer intrometida, mas o que aquela mulher falou pra você? Vocês têm algum plano? – inquere.
– Olá, Dona Olga. Algum problema com as compras? – Ele pergunta, como se não tivesse ouvido D. Olga. – Ah! Já viu que estamos com uma promoção nas cenouras? Pela metade do preço! O caqui também está em promoção! Eu, se fosse a senhora, aproveitaria – e dá uma risada de leve, o suor ainda correndo pelo rosto de pele parda. Ao perceber a evasão do assunto, Olga despede-se de Alberto com um sorriso e ruma em direção à mulher elegante atrás de respostas. Antes disso, porém, Alberto segura-lhe o braço e fala muito baixo, num sussurro:
– Seu filho está em perigo, dona Olga. Isso é tudo que posso dizer – Ele alerta, trêmulo – Eu realmente não posso falar mais nada sobe isso, mas talvez a srta. Valkíria possa – E, olhando timidamente para o chão, solta o braço de dona Olga, não sabendo como conseguiu fazer algo que ele consideraria tão ousado.
 Dona Olga o olha com se estivesse vendo a morte em pessoa. Após alguns segundos, ela ruma abruptamente e sem dizer nada em direção à mulher misteriosa atrás de esclarecimentos. Valkíria está na porta do mercado, expelindo, para o alto, fumaça da boca, proveniente do cigarro preso a uma piteira, que segura com elegância ao lado do corpo. Ela não está mais com a maleta. Olga anda até ela, mas um susto faz com que ela pare de súbito. Há muita gritaria e tumulto do lado de fora do mercadinho. Após alguns segundos de gritaria e corre-corre das pessoas na rua, para todos os lados, três homens adentram o local, todos encapuzados. Dois deles estão com espingardas e um deles, com um facão corroído por ferrugem. Dona Olga permanece imóvel, os olhos arregalados, e dá um pulo quando eles cortam aquele silêncio de repente.
– Todos quietos! Agora nós somos os donos desse local! Se vocês não ficarem quietinhos, a gente vai botar pra quebrar! – anuncia um dos três bandidos, apoiando a carabina sobre o ombro. E continua – Eu e meus amigos aqui fomos informados de que há uma tal Dona Olga neste estabelecimento. Quanto antes ela se apresentar, melhor para todos – ameaça.
Dona Olga olha para o gerente, que olha para ela de volta. Ele agora possui uma expressão muito mais tranquila do que antes, quase como se nada estivesse acontecendo. A mulher não sabe o que fazer e, aos poucos, começa a recuar, de costas, em direção ao local em que conversava momentos antes com Marcos. Porém, para sua surpresa, ele não está mais lá ou em qualquer outro ponto do mercadinho.
– Valkíria, venha cá – ordena o bandido à mulher elegante, que manteve-se absolutamente tranquila durante todo o tempo. Ela apaga o cigarro com o sapato e segue em direção ao bandido, que parecia ser o líder do bando.
– O Miguelzinho, Valkíria. Eu sei que a mãe dele está aqui, mas quem a gente quer é o filho dela.
– Miguelzinho está em casa. – diz a mulher, com sua constante cara de desprezo e nojo.
– Bom, e onde diabos fica essa casa, Valkíria? – replica o bandido, sua paciência aos poucos se esgotando. Ao ouvir tudo isso, Dona Olga entra em completo desespero. O que poderiam aqueles homens querer com seu filho? – Um garoto tão bom e certo, nunca fez mal a ninguém! Ele nunca estaria envolvido com bandidagem! – ela pensava nervosamente. É somente um tiro que interrompe seus pensamentos desesperados. O bandido havia matado Valkíria com um tiro na barriga e agora estava acenando para seus comparsas para que o acompanhassem em direção ao interior do mercadinho. Eles param ao lado dos caixas e o líder novamente se pronuncia:
– Dona Olga, nós sabemos sobre seu filho. Hoje é aniversário dele, né? Dê a ele meus parabéns. – diz o bandido, virando-se para olhar para seus comparsas com um sorriso demoníaco. – Mas hoje é o último dia de vida dele, porque nós o apagaremos da face da Terra – o bandido fala em tom calmo, ao contrário do que se pudesse esperar daquela situação. Ele olha para todas as pessoas no local, tentando identificar a mulher que buscavam. E prossegue. – O filho dele, Eduardo, o Duduzinho! de 5 anos. Seu neto, dona Olga. Nós o mataremos também. Que tal? Gostou da ideia? – termina, agora rindo muito alto com seus comparsas. Olga finalmente quebra o silêncio.
– Estou aqui! Eu sou a Olga e vocês podem acabar com a minha raça, mas deixem meu filho e meu neto em paz, seus cachorros! Animais! – ela brada, olhando ao redor em busca de algo para se defender, muito trêmula. Os bandidos então começam a avançar em sua direção. O do facão aproveita a oportunidade para degolar Alberto com um único golpe no pescoço, que cai imediatamente. Os outros dois continuam em direção a Dona Olga, que agora empunhava um rodo azul que encontrara perto da porta da área de serviço. Os bandidos agora estão perigosamente próximos de Dona Olga.
– Vocês não podem fazer isso! Eu vou acabar com a vida de vocês! Eu vou matar um por um! Aí eu quero ver como a mãe de vocês vai se sentir! Seus vermes, seus animais! – ela grita com a voz trêmula, fazendo movimentos com a vassoura tão fortes e rápidos quanto a idade permite. Ela para por um instante, o olhar fixo no nada. Então volta a mirar os bandidos e grita – E quem está balançando essas chaves? Estou ouvindo barulho de chaves! O que vocês tão tentando abrir? Hein? – e sacode furiosamente o rodo azul em todas as direções. Então, uma porta se abre sem que dona Olga perceba.
– Pra trás, seus bandidos imundos! Ou eu mato todos vocês, eu juro! – os olhos de dona Olga expressam profundo desespero.
– Mãe! – grita uma voz familiar.
– É você, Miguelzinho?! Se afaste! Esses homens querem te matar, e o Duduzinho também! Pra trás que eu já vou acabar com eles! Pra trás! PRA TRÁS! – grita a senhora, sem desviar o olhar dos bandidos em nenhum momento; estes, já apontando para ela e o filho as espingardas.
– Mãe – diz Fernandinho, colocando a mão no ombro da mãe – se acalme.
– Me acalmar como, Miguelzinho? Esses homens vão te dar um tiro! Um tiro, meu filho! Eu não vou deixar! – e balança mais uma vez o rodo.
Miguel quase tropeça nos tomates no chão da cozinha enquanto tenta se apoderar do rodo que a mãe sacode para todos os lados.
– Mãe, tá tudo bem. Se acalme. Eu já cheguei – diz o filho com muita calma, como quem já havia dito isso centenas de vezes antes. Ele agarra com muito cuidado o rodo da mão da mãe e o coloca em pé junto ao fogão, que está com os botões removidos para que o gás não possa ser ligado pela idosa em sua ausência.
– Meu filho, eles iam te matar! Eu tinha que fazer alguma coisa! – diz Olga com lágrimas nos olhos.
– Tudo bem, mãe. Tá tudo bem – diz Miguelzinho fazendo carinho na cabeça da mãe, que agora tem junto ao peito. E termina – Ei, que tal você descansar um pouco agora e mais tarde a gente faz aquele peixinho ensopado que nós adoramos fazer juntos? – sugere o filho, olhando nos olhos, ainda chorosos, da mãe.
– Mas e os bandidos, Miguelzinho? Eles falaram que vão matar você e o Duduzinho – ela inquere, o tom de voz ainda um pouco exasperado.
– Eles já foram embora, mãe. Fica tranquila – Ele responde e em seguida se abaixa para recolher uma maleta azul que a mãe havia jogado no chão da sala. Ao lado dela estava a foto de um homem de terno, que ele não reconheceu.
Ele então conduz a mãe até seu quarto, esta agora falando sobre o assassinato frio da mulher elegante e do Albertinho do mercadinho, enquanto o filho ouve tudo com naturalidade. Ele deita a mãe em sua cama, a cobre com o lençol e lhe dá um beijo na testa.
– Traz o Duduzinho pra eu ver ele, meu filho – diz enquanto segura a mão de Miguel – Eu tô morrendo de saudades dele.
– Claro, mãe. Claro – diz Miguel, desejando muito que o filho Eduardo ainda estivesse vivo, como na mente de sua velha mãe. Ele se vira, apaga o abajur da mesa de cabeceira e fecha a porta ao sair, suspirante.