Enquanto atravesso a sala da casa que não é minha
para escovar os dentes e dormir logo após, tão discretamente quanto posso, o
apresentador do telejornal me repreende, forçando-me a parar instantaneamente
onde estava. Ele precisava da minha atenção. Sim, era comigo mesmo, e era
grave. Falava sobre a tensa relação entre Estados Unidos e Coreia do Norte.
Falava em "não aperte esse botão que logo aperto o meu" e dava todo o
devido contexto para tal coceira de dedos indicadores e botões vermelhos
brilhantes encapsulados por pequenas caixinhas de vidro.
Já era sabido há alguns meses que o novo
presidente dos EUA com nome de desenho da Disney flertava com tudo relacionado
a armas e explosivos, mas ouvir de um programa TV que um certo país comunista
do extremo oriente "devastaria os EUA sem piedade se detectasse um ataque
preventivo em suas terras" era no mínimo de congelar a espinha. A
expressão não muito profissional de espanto no rosto do apresentador já dizia
tudo. "E agora, esportes".
Ao voltar a mim, percebo meus sogros no sofá em
formato de L, em frente à TV. Ele, dormindo com os anjos. Ela, dando risadinhas
ao enviar mais uma mensagem engraçada no celular para a família. E eu... Bem,
eu já não sei se quero voltar a me mover.