domingo, 4 de agosto de 2013

Supermercado



  

Manhã tranquila de quarta. Acordar tarde, matar um tempo na internet, sair pra tirar um dinheiro no banco. E comprar milho de pipica pra micro-ondas; não poderia me esquecer disso. A pipoca de micro-ondas. E o mundo é engraçado. Por todo o caminho, pessoas conversam, vivem e não fazem segredo disso. Pessoas interagem e o fazem em voz alta, quase como se não pudessem conter a alegria de ter uma vida normal, onde tarefas do cotidiano não são apenas rotina, mas uma satisfação inconsciente. 

Chego ao supermercado e observo mais disso, com inigualável, porém discreta, contemplação. Um empacotador pratica golpes de tae kwon-do, que possivelmente aprendeu em seu dojô na semana anterior, em seu colega de trabalho, que o olha com cara de “esse doido é meu amigo”.  Enquanto isso, uma velhinha com o semblante mais pacífico atravessa o portão do local com sua mochila de rodinhas a 2km/h, enquanto outra mulher, muito mais energética e decidida, força a entrada de uma bolsa de pano em seu carrinho de compras com a ajuda de seu parceiro. 

Entro no supermercado e fico abismado com a magnitude do local (note que não é comum para mim ir às compras da casa). Um shopping center, quase. Pessoas se atravessam como flechas intocáveis, trabalhadores operam como máquinas de uma montadora multinacional em meio ao ar frio, porém agradável, do ar condicionado. E as conversas permeam todo esse caos organizado, tão organizado quanto as prateleiras do supermercado. Ora falam da partida de futebol da noite anterior, ora falam sobre os ovos de páscoa que seus parentes adorarão receber. Ora falam sobre qual marca de tempero preparado é melhor, ora sobre como a pessoa do outro lado do celular não atende. Uns mexem em seus tablets como alheios ao local, outros pesam as batatas como habitantes dele. 

"Mas onde está o maldito milho de pipoca de micro-ondas?", eu me pergunto. Pergunto a um, a dois empacotadores. Um me indica a direção nordeste, e eu sigo. Sem sucesso, logo faço a mesma pergunta a uma segunda empacotadora (que gentilmente pergunta a um terceiro) sobre o prezado milho de pipoca de alguns trocados. Ela então, tendo obtido a resposta, com um sorriso no rosto, me indica a mesma direção. “Não segui esse caminho por tempo suficiente”, penso comigo mesmo, e então agradeço. Chego lá e me deparo com uma parede de tipos de milho de pipoca (nem sabia que existiam tantos!) e com a sensação de missão cumprida, sigo para o caixa, cuja atendente está mal-humorada e desanimada. Será que brigou com o namorado e não conseguiu dormir? Não sei; o que sei é que como ela, muitos outros seguem suas individualidades na rotina de suas vidas, que por vezes pode ser muito recompensadora pelos menores e mais desconhecidos motivos.

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