Manhã tranquila de quarta.
Acordar tarde, matar um tempo na internet, sair pra tirar um dinheiro no banco.
E comprar milho de pipica pra micro-ondas; não poderia me esquecer disso. A
pipoca de micro-ondas. E o mundo é engraçado. Por todo o caminho, pessoas
conversam, vivem e não fazem segredo disso. Pessoas interagem e o fazem em voz
alta, quase como se não pudessem conter a alegria de ter uma vida normal, onde
tarefas do cotidiano não são apenas rotina, mas uma satisfação inconsciente.
Chego ao supermercado e observo
mais disso, com inigualável, porém discreta, contemplação. Um empacotador
pratica golpes de tae kwon-do, que possivelmente aprendeu em seu dojô na semana
anterior, em seu colega de trabalho, que o olha com cara de “esse doido é meu
amigo”. Enquanto isso, uma velhinha com
o semblante mais pacífico atravessa o portão do local com sua mochila de
rodinhas a 2km/h, enquanto outra mulher, muito mais energética e decidida,
força a entrada de uma bolsa de pano em seu carrinho de compras com a ajuda de
seu parceiro.
Entro no supermercado e fico
abismado com a magnitude do local (note que não é comum para mim ir às compras
da casa). Um shopping center, quase. Pessoas se atravessam como flechas
intocáveis, trabalhadores operam como máquinas de uma montadora multinacional
em meio ao ar frio, porém agradável, do ar condicionado. E as conversas permeam
todo esse caos organizado, tão organizado quanto as prateleiras do
supermercado. Ora falam da partida de futebol da noite anterior, ora falam
sobre os ovos de páscoa que seus parentes adorarão receber. Ora falam sobre
qual marca de tempero preparado é melhor, ora sobre como a pessoa do outro lado
do celular não atende. Uns mexem em seus tablets como alheios ao local, outros
pesam as batatas como habitantes dele.
"Mas onde está o maldito
milho de pipoca de micro-ondas?", eu me pergunto. Pergunto a um, a dois
empacotadores. Um me indica a direção nordeste, e eu sigo. Sem sucesso, logo
faço a mesma pergunta a uma segunda empacotadora (que gentilmente pergunta a um
terceiro) sobre o prezado milho de pipoca de alguns trocados. Ela então, tendo
obtido a resposta, com um sorriso no rosto, me indica a mesma direção. “Não
segui esse caminho por tempo suficiente”, penso comigo mesmo, e então agradeço.
Chego lá e me deparo com uma parede de tipos de milho de pipoca (nem sabia que
existiam tantos!) e com a sensação de missão cumprida, sigo para o caixa, cuja
atendente está mal-humorada e desanimada. Será que brigou com o namorado e não
conseguiu dormir? Não sei; o que sei é que como ela, muitos outros seguem suas
individualidades na rotina de suas vidas, que por vezes pode ser muito
recompensadora pelos menores e mais desconhecidos motivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário